A Irmandade de Misericórdia de Campinas surgiu a partir do idealismo do Cônego Joaquim José Vieira, que sonhava com a fundação de um Hospital que atendesse às camadas mais pobres da população de Campinas e região. Após uma forte campanha de doações junto aos mais ricos, campanha esta que juntava tanto doações materiais quanto em horas de trabalho dos escravos, era fundado em 1871 o Hospital da Santa Casa de Misericórdia.
Em agosto de 1860, o jovem sacerdote padre Joaquim José Vieira, natural de Itapetininga-SP, foi nomeado vigário (pároco) de Campinas. Nessa época, a cidade contava apenas com a paróquia de Nossa Senhora da Conceição. O padre Vieira, com apenas 24 anos de idade, vinha substituir o padre Antônio Cândido de Mello. Devido à sua estatura franzina, o povo chamava o padre Vieira de “Vigarinho”.
Confiante na generosidade do povo de Campinas idealizou a fundação, nesta cidade, de um instituto que, congregando os esforços das pessoas de boa vontade, viesse a dispensar assistência hospitalar e conforto moral aos pobres enfermos, ideia esta que se lhe tornou uma preocupação constante, até que se concretizasse no imponente edifício a que denominou Hospital de Misericórdia.
Dentre os primeiros donativos, destaca-se o da grande quadra de terreno, onde atualmente se acham a Santa Casa e dependências, oferecida pela respeitável senhora Maria Felicíssima de Abreu Soares, viúva do Comendador Joaquim José Soares de Carvalho.
No dia 19 de novembro de 1871, por entre grande regozijo popular, realizou-se a cerimônia de lançamento da primeira pedra do futuro edifício, cuja construção fora dirigida por Diogo Benedito dos Santos Prado, mais conhecido por “Dioguinho”. O Dr. Francisco Quirino dos Santos assim remata o artigo de fundo publicado na Gazeta de Campinas, de 19 de novembro de 1871:
“Em quanto aos homens, talvez um dia, compulsando as prédicas do padre Joaquim José Vieira, apontem para o edifício com que ele vai dotar este município, dizendo: – Ali está o seu melhor sermão!”
Para a construção da Santa Casa, os antigos campineiros ofereceram toda sorte de auxílios, em dinheiro, materiais, operários etc., a que se juntou valioso legado do benemérito Antônio Francisco Guimarães, nascido em Portugal mas brasileiro adotivo, cognominado “o Bahia”.
A construção da capela que ocupa a parte central do edifício se fizera a expensas do saudoso campinense José Bonifácio de Campos Ferraz (posteriormente Barão de Monte-Mor), no cumprimento de um voto de erigir em Campinas uma capela sob a invocação de Nossa Senhora da Boa Morte, que assim se tornou a padroeira da Santa Casa.
Em 1º de outubro de 1876, o “Vigarinho”, então Cônego Vieira, teve a inefável ventura de ver as portas do Hospital se abrirem de par em par no recebimento de doentes pobres. O povo de Campinas conquistou nesse dia merecido floração de glória em sua nunca desmentida munificência, com a inauguração da Santa Casa de Misericórdia. A direção interna fora então entregue às Irmãs de São
José, de início apenas três, tendo como superiora a Irmã Ana Felicité Del Carreto. O serviço religioso foi confiado ao padre Francisco Quay Thevenon, que durante 12 anos exerceu a capelania com grande desvelo.
A 1ª Mesa Administrativa, eleita no dia 6 de fevereiro desse ano, tinha como provedor o padre Joaquim José Vieira; Bento Quirino dos Santos – tesoureiro; Dr. Luís Silvério Alves Cruz – secretário; Francisco Alves de Almeida Sales – procurador; e doze mesários. O fundador da Santa Casa exerceu a provedoria até 22 de abril de 1883, quando teve de renunciá-la por haver sido eleito Bispo do Ceará. Já nesse tempo, era Superiora da Santa Casa a benemérita Irmã Ana Justina, que durante o longo período de 45 anos, prestou à Instituição os mais relevantes serviços
De sua fundação até 1950, estiveram à testa da administração da Santa Casa, no cargo de provedor: Cônego Joaquim José Vieira (1876-1883); padre Francisco de Abreu Sampaio (1883-1887); Major Antônio Luís Rodrigues (1887-1891); dr. Francisco Augusto Pereira Lima (1891-1893); Bento Quirino dos Santos (1893-1913); Cel. Manuel de Morais (1914-1925); Dr. Antônio Álvares Lôbo (1926-1934); Cláudio Celestino de Toledo Soares (1934-1935); Dr. Lino de Morais Leite (1936-1947); Bento de Sousa Morais (1948-1950). Os maiores legados recebidos pela Santa Casa foram de parte do dr. Joaquim de Sousa Campos Júnior, Dr. Salustiano Penteado, Severo Penteado, Antônio Correia de Lemos e Rafael Gonçalves de Sales, que se tornaram grandes benfeitores da Instituição.
Em meados século passado, os serviços hospitalares achavam-se distribuídos em 4 enfermarias de clínica médica, 4 de cirurgia, 2 de pediatria, 1 de oftalmologia, 1 de otorrinolaringologia, 1 de cardiologia e 2 de tisiologia. Contava ainda com o serviço de assistência dentária gratuita, instalada no pavilhão anexo “d. Ester Nogueira”.
Em pouco tempo a Santa Casa de Campinas mostrou que cumpria com eficiências as funções para as quais fora criada. Entre 1878 e 79 atendeu 337 pacientes, dos quais 220 classificados como brancos pobres, 107 escravos e 10 livres.
No período 1883-1885 o livro de registros indicou o atendimento a 1.410 pessoas, escravos em sua maioria. Como muitos dos doentes pobres, sobretudo os escravos, acabavam morrendo, os criadores da Santa Casa estruturaram outra instituição, destinada a abrigar órfãos.
Assim, em 15 de agosto de 1878, foi criado o Asilo das Órfãs. Depois de funcionar precariamente como externato, o Asilo, a partir de 15 de Agosto de 1890, passou a abrigar meninas em regime de internato. Note que essa data coincide com o auge das epidemias de febre amarela na cidade.
Desde sua inauguração, o funcionamento foi ininterrupto, abrigando um limite de 60 órfãs, conforme era pedido pelo seu regulamento. A Capela Nossa Senhora da Boa Morte foi tombada em 1988 e, dez anos depois, o prédio da Santa Casa também foi tombado pelo patrimônio histórico e cultural de Campinas.
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